segunda-feira, 16 de abril de 2012

Estações de transbordo de Salvador estão abandonadas e sujas



Se você for à Estação de Mussurunga, uma das opções de transbordo de transporte coletivo de Salvador, e perguntar onde fica o banheiro, a primeira coisa que irá ouvir, antes da resposta sobre a localização do sanitário, é uma recomendação. O conselho, dado por vendedores e passageiros da estação, é para evitá-lo. O motivo? As dependências são imundas, com sujeira nas privadas, pias, paredes e no chão, e o mau cheiro exala por toda a estação. A sujeira, resultado da manutenção que deixa a desejar, a falta de estrutura e o descaso não são problemas que se resumem, contudo, à esta estação. Informações do jornal A Tarde.
Os usuários dos outros três terminais rodoviários da capital baiana - Lapa, Pirajá e Iguatemi – convivem com os mesmos problemas diariamente. As condições precárias dos terminais, rotas de ligação que cortam toda Salvador e que, juntas, recebem, por dia, 685 mil pessoas, têm levado os próprios vendedores desses locais a criar alternativas para continuar trabalhando nos espaços.
Em Mussurunga, onde circulam diariamente 30 mil passageiros, os ambulantes desembolsam R$1 para limpar os banheiros; na Lapa, cuja passagem de pessoas chega a 460 mil, sendo o maior e mais importante terminal da cidade, os vendedores autônomos pagam por segurança à noite; e no Iguatemi, uma média de 65 mil passageiros, os próprios comerciantes da região acabam se virando.
Na última segunda-feira, 9, um deles retirou a vassoura ao lado da sua pequena barraca e começou a varrer a área onde os passageiros circulam, no final da tarde, quando o movimento começa a aumentar.
Mesmos problemas - Em todos os terminais existem os mesmos problemas: falta de estrutura, de higiene e insegurança. Cada um deles em maior ou menor grau. Na Estação Mussurunga, cujas linhas de ônibus ligam bairros como Itapuã, Jardim das Margaridas e São Cristóvão ao centro da capital, a sujeira dos banheiros é o que mais incomoda. Todos reclamam da falta de manutenção nos sanitários da estação, inaugurada em 2001. Segundo os vendedores, não há funcionários para realizar a limpeza, por isso tiram do próprio bolso.
Ainda assim, muitos preferem evitar usar os banheiros. As ambulantes Laíra dos Santos, de 27 anos, e Tânia Maria, 48, são algumas delas. As duas contam que muitas vezes acabam pedindo para usar o banheiro da administração do local por conta da falta de condições. "O banheiro é sujo demais, não dá. Todo mundo que entra, sai na mesma hora, porque o fedor lá dentro é insuportável", conta Laíra, que comercializa balas e doces no lugar.
Se em Mussurunga a situação dos banheiros é a principal reclamação, na Lapa, a maior queixa é sobre a falta de segurança, segundo vendedores e usuários da estação. Lá, não é incomum encontrar alguém que já presenciou um assalto, furto ou mesmo já foi vítima. Do vendedor de pipoca a uma aposentada que passa pelo local uma vez ao mês para receber o salário, quase todo mundo tem histórias para contar sobre os furtos e roubos na região.
Um vendedor, que conversou com a reportagem na condição de não revelar a sua identidade, passou a pagar por segurança depois de ter sido roubado. Segundo ele, policias militares fazem ronda na região, mas a quantidade de agentes e o tempo que eles permanecem fazendo o policiamento são insuficientes. "Meu carrinho de trabalho já foi arrombado várias vezes. Para me garantir, hoje, tiro do meu bolso para pagar segurança".
A aposentada Maria Lúcia Garcia das Neves relatou que, além dos assaltos que já presenciou, foi perseguida por dois homens em um domingo à tarde, no final do ano passado. "Se eu não corresse, seria assaltada, com certeza. Eles só pararam de me seguir quando alcancei o despachante, no final do terminal", contou.
Além da insegurança, os frequentadores da estação convivem diariamente com uma realidade bem pouco agradável aos olhos. As paredes e plataformas são sujas e escuras, há fios descobertos em algumas áreas, e no chão sempre há lixo, além dos cartazes velhos e sujos pregados por toda parte, com oferta de serviços, aviso de desparecidos e até de partidos políticos. Os banheiros também estão em péssimo estado.
No primeiro andar, o sanitário feminino tem portas quebradas e cabines interditadas. Das 13 cabines, cinco estão sem portas e duas não funcionam. Já as pias, das 12, somente duas podem ser utilizadas. As outras estão amarradas com sacos. Muitos vendedores acabam recorrendo ao shopping que fica ao lado devido à falta de estrutura, como José Jesus dos Santos, 24: "Aqui não dá. Algumas vezes, nem água tem para lavar as mãos".
Na Lapa, a construção de novos sanitários no subsolo da estação, possibilitará, segundo a Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), a interdição e reforma dos banheiros do primeiro piso. No subsolo, será melhorada a ventilação e a iluminação do espaço, conforme comunicado enviado pela assessoria da PMS, sobre uma reforma iniciada no ano passado. Inaugurada em novembro de 1982, a estação já passou por diversas reformas, sendo que a última foi realizada em 2000. Algumas intervenções foram realizadas depois desse ano, mas os reparos foram pontuais.
Arrombamentos - Em Pirajá, onde mais de 170 coletivos fazem a ligação de bairros mais periféricos como Castelo Branco, Águas Claras e Valéria ao centro de Salvador, a maior reclamação também é sobre a insegurança. Lá, os relatos dão conta de casos de arrombamento de bancas e assaltos aos passageiros durante à noite, embora tenha uma unidade do Grupo Especial de Repressão ao Roubo em Coletivos (Gerrc) no pátio da estação, construída em 94.
As queixas são de muitos. Para o ambulante Jorginaldo Araújo José, "a segurança deveria ser fixa, e não ser feita por PMs em ronda". Outro vendedor, José Aquino dos Santos, diz nunca ter visto, em anos de trabalho, a Estação Pirajá "tão abandonada". Já o vendedor autônomo Carlos André Duarte, que vai ao local todos os dias para trabalhar, lamenta a precariedade. "Infelizmente, preciso estar aqui todos os dias para pegar ônibus".
A reportagem procurou a assessoria da Prefeitura de Salvador durante uma semana, mas até a publicação desta matéria não obteve resposta sobre a existência de projetos de melhoria para as estações citadas no texto.

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